Transformação digital: As cruciais habilidades de hoje, de olho no futuro
- VECTOR Consultants - E.Moreno
- 11 de jun. de 2022
- 5 min de leitura

Human skills guiarão os talentos da próxima geração.
Como se sabe, a crise sanitária fez com que a transformação digital acelerasse em todo mundo. Pesquisas de empresas especializadas em automação nos negócios indicam que, ao final de 2022, 65% do PIB global serão digitalizados. Mostram também que a maioria das empresas (82%) busca inovar em seus modelos de negócio, buscando fazer da transformação digital a maneira mais promissora de se adequar às novas condições de mercado e permanecer economicamente viáveis.
O fato é que a evolução da tecnologia tem se tornado uma poderosa aliada para os negócios de todos os setores. Mas as pesquisas também demonstram que apenas os investimentos em tecnologia nem sempre são capazes de alcançar os objetivos de transformação digital. Três em cada quatro empresas falham em suas tentativas, visto que a transformação digital exige muito mais do que tecnologia.
Estudo desenvolvido pela Flipping The Odds of Digital Transformation, do Boston Consulting Group (BCG), constatou que apenas 23% das empresas brasileiras atingiram os seus objetivos de transformação digital em 2021, número abaixo da taxa de êxito global, de 35%.
Um fato que pode explicar esse desempenho é que a percepção de urgência das empresas em promover maior resiliência e desempenho operacional, em razão da pandemia, quase sempre têm levado a planos que priorizam investimentos em tecnologia e capacidades técnicas (hard skills), mas muito pouco na construção de uma cultura da inovação, essencial para a verdadeira transformação digital.
Mudança cultural é sempre um desafio para a maioria das empresas, pois além de demandar tempo, ela também depende de propósito e de pensar estratégico, em uma visão de futuro.
Nesse sentido, elevar e disseminar habilidades emocionais (soft skills & human skills) a todos níveis hierárquicos e estrutura da empresa, em particular as de lideranças, são condições chave para a mudança. No entanto, segundo estudo da CareerBuilder, em 2021, 77% das empresas acreditam que as habilidades emocionais são tão importantes quanto as técnicas no dia a dia de trabalho. E, de acordo com um levantamento do LinkedIn, elas serão uma das prioridades para 92% dos recrutadores neste ano.
A pergunta que resta então é: por qual razão os planos de transformação digital falham, mesmo diante de tanto interesse em se promover as soft skills?
Observa-se que, mesmo reconhecendo a importância das soft skills no progresso das organizações, os planos de digitalização, de modo comum, enfatizam ferramentas e métricas de alcance de mercado, sem que espaços para novas formas de pensar, de tentar e até mesmo errar (risco presumido) sejam valorizados. Ou seja, os planos de transformação, que acabam se resumindo em projetos de digitação (ou de simples automação), falham por que muitas habilidades humanas - essenciais para a verdadeira transformação e que os robôs ainda não podem substituir - acabam ficando em segundo plano ou relegadas às lideranças.
Somente com uma forte a cultura da inovação é que se permite a todos os colaboradores uma maior compreensão quanto à relevância da transformação digital na vida e no futuro da empresa, o que favorece o alinhamento das expectativas das pessoas com os propósitos da empresa, favorecendo maior engajamento, atração e retenção de talentos.
Isso parece bastante óbvio, mas não tem necessariamente correspondência com a realidade da maioria das empresas, mesmo que se tratando mais de hard skill. Levantamento da consultoria PwC, realizado em 44 países e que ouviu mais de 52 mil pessoas, apontou que 30% da força de trabalho no Brasil, e no mundo, receiam que os avanços tecnológicos possam substituí-los nos próximos 3 anos, o que dificulta a construção e o avanço de uma cultura da inovação inclusiva. Por mais, o estudo revela que, no Brasil, 35% trabalhadores temem não receber de seus empregadores as competências digitais e tecnológicas que possam impulsionar suas carreiras, particularmente frente aos planos de transformação digital das empresas, bem como para o futuro.
E o futuro não pode depender de somente de tecnologias e produtos, pois são as habilidades humanas que permitem inovar, incluindo aí a própria maneira com que as empresas buscam a inovação. A inovação aberta, a maior tendência inovação nos negócios nos próximos anos, é um conceito e exemplo de que apenas laboratórios e TI podem não ser suficientes para competir.
Dentre muitas habilidades de hoje, quem quer fazer a verdadeira transformação precisa se manter de olho naquelas que orientam o futuro das organizações mais exitosas. Seguem seis bons exemplos:
1. Deep digital leadership
A verdadeira transformação exige liderança digital profunda, pois, muito além do que ativos digitais, ela pede mudanças culturais em todos os níveis corporativos e capazes de imprimir um modelo de organização mais responsivo às necessidades dos clientes, em uma visão de futuro. Não basta automação de produtos e serviços de hoje, o que conta é a capacidade de trabalhar hoje em uma necessidade do futuro.
2. Pensamento crítico
Inteligência Artificial e a digitalização proporcionam um universo enorme de dados e informações, mas a capacidade de discernir quais são aqueles necessários e confiáveis para a tomada de decisão é uma qualidade humana, em especial nas organizações que mantêm como propósito a trilha do futuro.
3. Disposição à criação e renovação
O atributo incansável pela criação só é possível permanecer onde o medo de errar não impera. Senso de fronteira de risco só depende da habilidade humana. Dados e logaritmos são importantes para a gestão de risco, mas é a cultura da inovação que permite resiliência e afasta o medo quando é preciso inovar sempre, incluindo na maneira de se inovar. Nisso, todos os colaboradores devem estar engajados no propósito da inovação permanente, com estímulos à criatividade e ao risco como elemento chave à inovação. Para isso, as empresas precisam fazer com que cada trabalho tenha sentido para as pessoas, não só nas suas expectativas pessoais como também relação aos propósitos corporativos.
4. Inteligência emocional e empatia
A inteligência emocional será sempre um grande diferencial nas relações humanas, pois é ela que eleva a nossa capacidade de consciência, de controlar e expressar nossas emoções e lidar com as dos outros, essencial para o desenvolvimento da empatia e das habilidades de comunicação interpessoal.
O avanço tecnológico transformou a maneira de interagir das pessoas e empresas. Porém, a maior prevalência das relações digitais reduziu a empatia nas relações, visto que os robôs têm se demonstrado incapazes de criar conexões significativas entre as pessoas.
Hoje, porém, a empatia já é reconhecida como o novo diferencial de valor, pois somente ela permite orientar em torno das necessidades e anseios mais autênticos de clientes e colaboradores. Por mais, favorece as relações com os diversos agentes de mercado, onde a economia colaborativa (que inclui a inovação aberta) tem se mostrado vantajosa para o incremento dos negócios (1), para a sustentabilidade e a inovação das empresas. As human skills guiarão os talentos da próxima geração.
5. Vocação pela diversidade
Um atributo que molda não só a tecnologia (marketing inclusivo), mas sobretudo a convicção de que a diversidade étnica e cultural traz uma enorme vantagem competitiva para as empresas, pois permite maior diversidade cognitiva, no modo de se pensar e fazer as coisas. Nesse sentido, habilidades com a equidade e lidar com o preconceito não são apenas necessárias para um ambiente de trabalho acolhedor, mas sobretudo para se promover a inclusão efetiva e a cultura da inovação.
6. Adaptação e flexibilidade cognitiva
Habilidades profissionais que perdem sentido têm sido cada vez mais comuns com as mudanças com que os negócios são cotidianamente afetados. A necessidade de se ajustar à nova realidade e as perspectivas de futuro exigem permanentemente das empresas e das pessoas a requalificação e o desenvolvimento de novas habilidades. Para isso, capacidade de encarar positivamente as mudanças e se manter receptivo às novas ideias e maneiras de se fazer as coisas são habilidades que podem determinar a carreira das pessoas como também o destino das organizações.
----
e-mail: e.moreno.consult@gmail.com
----
(1) Segundo a PwC, esse modelo de negócios gerará US$ 335 bilhões em receita até 2025.
Comments