Os CEOs estão cada vez mais se sentindo solitários. E é hora de reconhecer isso.
- VECTOR Consultants - E.Moreno
- 12 de ago. de 2024
- 3 min de leitura

CEOs podem demonstrar uma falsa imunidade à solidão enquanto prevalece a cultura comum de que admitir a necessidade de ajuda é aceitar o fracasso.
É difícil imaginar que, com tanta demanda de atenção de conselheiros, diretores, clientes e colaboradores, o principal executivo da empresa possa sentir solidão. Mas, a realidade é que a vida da maioria dos CEOs não é tão prazerosa como esses profissionais gostariam. Por isso, poder, prestígio e influência não garantem necessariamente uma vida de compartilhamento com autenticidade. É o que, pelo menos, aponta pesquisa da Harvard Business Review nos Estados Unidos que revelou que quase 70% dos altos executivos, especialmente aqueles que tinham recentemente assumido o cargo, sentiam-se solitários em suas funções e que 61% deles admitiram que a solidão atrapalhava o seu desempenho profissional. Certamente os executivos brasileiros não são tão diferentes dos norte-americanos.
O resultado disso tem sido que a solidão, que necessariamente leva ao estresse e à depressão, tem sido causa de um número crescente de CEOs que desistem dos seus cargos por entender que dinheiro não é o suficiente para uma vida mais saudável.
Pesquisa da empresa de recrutamento Challenger, Gray & Christmas apontou um crescimento de 48% nas mudanças de CEOs nos Estados Unidos durante o segundo trimestre do ano, em relação ao mesmo período do ano passado.
As razões principais disso estão intimamente ligadas ao modelo de gestão corporativa que os altos executivos exercem. Eles se sentem como os principais responsáveis pelo destino das empresas, uma condição bastante natural, afinal, a maioria foi contratada a peso de ouro para a missão. Por isso, especialmente em tempos de crise, os CEOs acabam sendo sobrecarregados com os problemas mais críticos das empresas, conforme Elon Musk, que já lamentou em 2022 em relação à sua vida profissional (Época Negócios).
Por outro lado, mesmo com tantos avanços em qualidade de vida no trabalho (QVT), há ainda quem pensa que necessariamente as pessoas precisam abrir mão da qualidade de vida para ser reconhecidas como profissionais competentes. Porém, o excesso de trabalho nunca foi sinônimo de convívio, de comunidade e pertencimento. Por isso, vale relembrar o conselho de Sócrates (filósofo grego, 470 – 399 a.C.): “Cuidado com o vazio da vida ocupada demais”.
Naturalmente, o sentimento de isolamento quase sempre não é exclusivo dos CEOs. Por isso, o auto reconhecimento de que a solidão os atinge é fundamental para a reflexão e o repensar estratégico do modelo atual de governança, envolvendo a organização como um todo.
A concentração de poder, particularmente diante os momentos de crises, necessariamente tende ao isolamento dos CEOs, o que pode levar a uma missão demasiadamente solitária onde a expressão de poder e/ou de autonomia nem sempre reflete imunidade ao sentimento de solidão. CEOs podem demonstrar uma falsa imunidade enquanto prevalece a cultura comum de que admitir a necessidade de ajuda é aceitar o fracasso. Por outro lado, os modelos de comunicação mais vigentes nos dias de hoje, em especial aqueles focados nas novas tecnologias de informação, remetem para uma relação mais fria e massificada, menos interativa em termos das relações pessoais. Portanto, menos empáticas, uma restrição às oportunidades de compreensão intelectual e às trocas emocionais que sempre aciona ajuda a quem precisa. Ser protagonista do êxito corporativo passa também por se abrir à empatia e admitir as próprias fraquezas, atributo de líderes de elevada competência emocional.
Thiago Hering, CEO da Hering dá um importante conselho sobre isso: “Não queira ser o herói, seja o líder. Desenvolve um grupo de pessoas que possa estar junto de você no fim do dia.” (Revista Exame).
O antidoto da solidão se faz com uma cultura de compartilhamento, empatia e inclusão, que, permeando a organização como um todo, cria motivação e entusiasmo para se perseguir objetivos estratégicos e elevar expectativas pessoais para todos.
Fale conosco sobre como desenvolver uma cultura de inclusão.
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