ESG: Como as expectativas elevadas criam tantas controvérsias e põem o ESG sob ataque
- VECTOR Consultants - E.Moreno
- 2 de ago. de 2022
- 4 min de leitura

Mal os conceitos e as práticas de ESG¹ começam a fazer parte do mercado, a sigla já vem sendo objeto de fortes ataques. E, certamente, não é pelos seus conceitos, mas sim pelas expectativas que se cria em volta dele. Afinal, um mundo social e ambientalmente sustentável é o que mais se conclama nos tempos de grandes conflitos sociais e um meio-ambiente em forte degradação.
Críticas ao ESG parecem vir de todos os lados, mas as que produzem os maiores estragos são as de personalidades e instituições influenciadoras sobre o tema. Não faltam exemplos, como o da revista inglesa The Economist, que, em recente editorial, defendeu que os investimentos deveriam focar apenas nos aspectos ambientais do ESG, desprezando assim a importância das políticas sociais e de governança nas empresas investidas. Outro exemplo veio de Elon Musk quando afirmou que “ESG é uma farsa" e “o ESG corporativo é o diabo encarnado”, após a S&P Dow ter retirado a Tesla do seu rol das empresas certificadas com selo de sustentabilidade, mesmo sendo a Tesla empresa líder no mercado global de produção de carros elétricos.
De peso também as declarações de Tariq Fancy (ex-diretor de sustentabilidade da BlackRock, maior gestora de capitais do mundo), quando, em maio do ano passado, postou no USA Today que “o setor de serviços financeiros está enganando o público com suas práticas de investimento pró-meio ambiente e sustentáveis. Esta arena de multitrilhão de dólares de investimento socialmente consciente está sendo apresentada como algo que não é. Em essência, Wall Street está promovendo uma lavagem de imagem no sistema econômico e criando uma distração mortal” (tradução nossa), uma referência às práticas de green e socialwahing comuns entre as empresas.
A percepção de Tariq Fancy, como de muitos outros influenciadores, é a de que o ESG é uma fralde por não resolver as questões socioambientais que afligem o mundo e tampouco criar vantagens financeiras significativas para as empresas.
Por mais, o rigor das gestoras de fundos de investimentos (como o da BlackRock), quanto aos critérios de sustentabilidade nas empresas investidas, tem sido percebido por outros segmentos do mercado como a “Ditadura do Woke Capital”, uma visão de que o ESG tem sido imposto como uma ideologia progressista, quando colocada acima dos resultados entregues pelas companhias aos seus acionistas e demais stakeholders.
Também não faltam críticas ideológicas e controversas de que o ESG inibe o combate à fome pelo mundo afora, na medida em que o conceito de sustentabilidade ambiental poderia sobreviver sem a elevação da produtividade – particularmente na agricultura – e sem as restrições ao uso da terra. Questões sobre ofensa à soberania nacional na gestão de seus recursos ambientais também vão surgindo com mais frequência no debate sobre ESG.
Mas o fato é que expectativas elevadas sobre o ESG têm distorcido o seu propósito primeiro nos negócios, que é o de elevar e/ou proteger o valor das empresas no mercado, na medida em que as boas práticas com as questões ambientais e sociais impactam positivamente no posicionamento das marcas.
Esse propósito faz do ESG uma condição legítima nas expectativas de proteção dos investimentos nas empresas e não somente pelos ganhos financeiros decorrentes. A S&P Dow, por exemplo, em seus critérios de certificação de sustentabilidade, avalia o quanto as políticas e as práticas das empresas listadas são capazes de mitigar riscos em suas atividades e que interferem diretamente no valor de mercado das empresas e não apenas pelos resultados financeiros decorrentes.
Controvérsias em volta do papel do ESG decorrem sempre de expectativas elevadas de sustentabilidade em todos os seus sentidos. Frustrações sempre estarão presentes quando se espera que o ESG deveria servir de panaceia, o remédio para todos os males.
Por outro lado, é sabido que o engajamento das empresas aos critérios de sustentabilidade socioambiental e de governança não são suficientes ou capazes de atender todas as demandas da sociedade (o que implica na necessidade de maior envolvimento do Estado com políticas públicas), mas sem o comprometimento do mercado com as questões socioambientais, além de representar um péssimo negócio para as empresas, os avanços que se espera com as boas práticas de ESG seriam fortemente comprometidos.
Por mais, a pressão dos investidores cada vez mais deixa de ser relevante para os negócios quando as empresas começam a tomar consciência de que as vantagens do ESG vão muito além da atração de capital. Mesmo que investidores buscam retornos a curto prazo em tempos de crise global, seguir a tendência dos negócios social e ambientalmente responsáveis em uma visão de futuro é o que pode garantir a perenidade e o êxito das organizações.
De tal forma, vale considerar que, a despeito da relevância das atividades de grandes empresas no meio-ambiente (como as das petroleiras), são os pequenos e médios negócios os predominantes nas economias e que estão distantes dos mercados de capital. No Brasil, além de 40 milhões de pessoas que atuam no mercado informal de trabalho (IBGE Pnad), as micro, pequenas e médias empresas representam mais de 98% das empresas em atividade (Sebrae), as quais produzem grande impacto nas questões sociais e ambientais. Lembrando que o Setor de Serviços, predominado por negócios de menor porte, é responsável por mais de 70% do PIB nacional, responde por mais de 60% dos empregos (IBGE), além de ser um dos setores de maior produção de lixo no Brasil.
Ao largo prazo, mais empresas vão aderir ao ESG, visto que o mundo dos negócios não é apenas uma questão ambiental e/ou de capital. Produzir lucro é importante, mas para ter lucro as empresas precisam de governança, política e práticas que permitam se firmar no mercado com reputação de organização social e ambientalmente responsáveis.
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Saiba mais como o ESG pode ser um grande aliado dos negócios. Consulte a
1 Sigla em inglês para práticas ambientais, sociais e de governança
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