ESG é uma farsa?
- VECTOR Consultants - E.Moreno
- 19 de jul. de 2022
- 4 min de leitura
Ideologia ou estratégia de negócio?

Como erros de interpretação podem trazer sérios problemas de reputação às empresas junto ao mercado.
Dá para acreditar que a Tesla, de Elon Musk, uma empresa reconhecidamente inovadora pela sua missão de ajudar na tirada de carros movidos a combustíveis fósseis das ruas e estradas, pode agora ser excluída na lista de empresas sustentáveis no mercado global? Pois é, foi isso que aconteceu recentemente com a decisão da S&P Dow Jones de excluir a montadora de carros elétricos de seu índice de sustentabilidade, o S&P 500 ESG Index.
A decisão da S&P Dow, dentre os principais motivos, levou em conta acusações de discriminação racial, falhas no sistema de piloto automático dos veículos elétricos da Tesla (o que levou a riscos de colisão), códigos duvidosos de conduta e pouca clareza na sua estratégia de redução das emissões de carbono.
Elon Musk reagiu à decisão argumentando, pelo Twitter (em 18.05), que a “ESG é uma farsa. Tem sido usado como arma por falsos guerreiros da justiça social". Antes mesmo disso, Musk já havia protestado, também pelo Twitter dizendo: “Estou cada vez mais convencido de que o ESG corporativo é o diabo encarnado”, uma afirmação de descrédito aos critérios utilizados pela S&P Dow para a certificação de empresas listadas quanto às suas práticas de ESG.
Correto ou não em sua avaliação, Musk parece não estar sozinho na ideia de que, por muitas vezes, ESG tem se transformado em uma ideologia, até mesmo antes de que se constitua em uma estratégia de negócio.
O ESG se tornou numa exigência para as empresas que desejam atrair capital e se destacar no mercado. Porém, padrões mínimos de ESG tem sido uma imposição de investidores, em particular dos grandes fundos globais de investimentos, como os administrados pela BlackRock, a maior gestora de fundos do mundo, com carteira equivalente ou superior a R$ 44 trilhões.
O rigor das gestoras tem sido percebido pelo em outros segmentos do mercado como a “Ditadura do Woke Capital”(1), uma visão de que o ESG tem sido imposto como uma ideologia progressista, colocada acima dos resultados entregues pelas companhias aos seus acionistas e demais stakeholders.
Isso equivale a dizer que a proposta de medir as práticas de ESG por uma única régua, certamente não garante as melhores práticas de sustentabilidade. Um bom exemplo disso pode ser tomado quando se compara a missão e as práticas comuns entre a própria Tesla (excluída do S&P 500 ESG Index) e a petroleira Exxon Corp, tida pelo S&P 500 ESG Index como uma das dez melhores. Mesmo enquanto que a Tesla busca a substituir o petróleo, a Exxon ainda vive dele.
Contudo, é sabido que os critérios de classificação (como os da S&P) ainda são baseados nas políticas e práticas de mitigação de riscos de suas atividades que interferem diretamente no valor de mercado das empresas listadas, enquanto a natureza dos negócios e a missão das empresas presumidamente já tenham seus impactos pré-fixados pelo mercado. Uma estratégia no mínimo temerosa, pois, muito além dos ganhos de hoje no mercado de capitais, a perenidade dos negócios está rigorosamente alinhada a pressupostos mais autênticos de sustentabilidade em uma visão de futuro, onde a natureza e os propósitos dos negócios são determinantes.
Isso explica então a razão de que a inovação nos negócios, por si só, pode não garantir o reconhecimento imediato de sustentabilidade pelo mercado - mas o atraso ou a falta dela tem deixado muitas empresas para trás. Na prática, a inovação dos negócios implica em riscos naturais (como o de falhas eventuais de tecnologias aplicadas), mas isso não faz das companhias imunes a riscos de imagem ou que possam prescindi-las de práticas robustas de governança e de sustentabilidade socioambiental.
Cheias de controversas, práticas de ESG são muitas vezes percebidas como caras e que nem sempre podem levar às vantagens competitivas propaladas, especialmente entre as empresas que não percebem as vantagens do ESG além da atração de capital. Como um bom exemplo, as políticas de Diversidade & Inclusão. Não faltam corporações que as têm por uma questão ideológica, mesmo antes de considerar que D & I é uma condição para a diversidade cognitiva, algo essencial para quem quer se diferenciar no mercado através da inovação.
“Existem muitas ideias erradas entre os investidores sobre o que realmente significa a sigla ESG — e até mesmo Elon Musk pode ter se confundido”. Rebeca Minguela, CEO da Clarity AI, uma empresa de tecnologia especializada em prover softwares para medir sustentabilidade sobre as controversas.
Equívocos na construção de estratégias de ESG não são exclusivos de corporações de menor porte ou menos estruturadas. Mas são sempre aqueles induzidos por paradigmas ou vieses ideológicos, contra ou a favor de questões sociais. ESG não é apenas sustentabilidade ambiental, nem tampouco deve ser entendido como uma agenda social ou ideológica.
Antes de se render ao modismo ou à uma pauta progressista ou negacionistas, as empresas precisam abraçar o ESG como estratégia de negócio, afinal de contas, não só os investidores estão de olho nas marcas, mas sobretudo os clientes consumidores que esperam, a cada vez mais, práticas de responsabilidade socioambiental nos seus produtos e serviços. Código de conduta e reputação andam juntos
(1) “The Dictatorship of Woke Capital: How Political Correctness Captured Big Business” (Stephen R. Soukup,)
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