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Efeito da pandemia: A tentação de abraçar o nacionalismo

Atualizado: 19 de mar. de 2021


26 de maio de 2020

O mercado que nos espera A experiência do Brasil e da maioria dos países diante à pandemia do Coronavírus se demonstrou extremamente dolorosa em quase todos os sentidos, particularmente o humanitário. A rapidez com que a pandemia se propagou trouxe um profundo sentimento de que não fomos suficientemente capazes e resilientes para o enfrentamento da crise. Perdas de vidas humanas, retração econômica, elevação do desemprego, aumento da pobreza, depressão social, desorganização das finanças públicas, centelhas à crise política... Tudo convergindo para mudanças dos paradigmas que nos orientaram até agora, seja na vida política, social ou econômica. Nada será como antes. Nem sempre temos todas as respostas, mas uma pergunta que começa a ser posta para a pós-pandemia: E agora? Quais lições podem se tirar disso tudo? Parece que a gripe espanhola (1918-1919), com cerca de 40 a 50 milhões de mortes (35 mil no Brasil) e desastres econômicos em vinte países pouco nos ensinou. À época, o sentimento de agressão externa fez robustecer os movimentos nacionalistas alimentados pela guerra. Hoje, o mesmo sentimento de vulnerabilidade que incita ideologias nacionalistas e protecionistas pelo mundo a fora. Estímulos internos e barreiras alfandegárias com propósito de se buscar autossuficiência em setores considerados essenciais já são notados. Em nome da “soberania alimentar”, governos – particularmente da Europa – poderão fazer retornar os elevados graus de proteção e de subsídios ao agronegócio, à indústria e demais negócios considerados estratégicos. O nacionalismo poderá afetar significativamente o comércio mundial, quando já os efeitos diretos da pandemia, neste ano, estão estimados pela OMC com uma queda em 16%, podendo chegar até 32%, a depender da duração da pandemia e da efetividade das políticas adotadas. Exemplos contundentes do protecionismo vêm dos Estados Unidos, onde o Governo Trump, diante a disputa entre Estados Unidos e China, ameaça corte de apoio financeiro à OMC e até mesmo abandono, uma defesa de regras próprias para as relações comerciais dos EUA com o mundo. É demasiadamente forte o movimento que se forma em favor do tentador protecionismo. Contudo, pode-se considerar que nacionalismo já teve seus momentos mais expressivos em sua história, mas que tem demonstrado consequências de desabastecimento, elevação dos preços dos alimentos, precarização dos segmentos mais vulneráveis da população e outras mais. Algo que sempre resultou na concessão de privilégios a determinados atores econômicos em detrimento dos mais pobres. Um bom exemplo disso pode ser atribuído ao frustrado nacionalismo de Adolf Hitler, que com a política protecionista à indústria nacional, levou a Alemanha, em 1935, a um grave desabastecimento de alimentos. Isso obrigou o governo a implantar o Plano Fome que visava obter o alimento em terras conquistadas a qualquer custo. O plano implicou na morte por fome de milhões nos países saqueados. Se a crise deixa sequelas, ela também representa a oportunidade de se pensar em mudanças mais profundas, particularmente quanto aos paradigmas que nos orientaram até aqui. Nesse sentido, duas correntes de pensamento parecem se apresentar: A do Estado mais forte, baseada na ideia de que somente o Estado é capaz de suprir as necessidades do cidadão, particularmente nas crises. Portanto, cabe ao cidadão entender que não possui capacidade suficiente de estabelecer relações com a sociedade e alcançar os seus objetivos de bem estar. Resta-lhe a submissão ao poder do Estado e se servir da utopia da igualdade e da justeza. Filósofos do Pós Capitalismo entendem que as crises humanitárias – como a da pandemia do coronavírus -, que alimentam o interesse coletivo de sociedade mais justa e solidária, são as bases para a construção de uma sociedade igualitária que deverá vir como alternativa ao capitalismo. No modelo, cabe ao Estado definir os padrões de bem-estar e como alcança-los. Assim, o princípio de intervenção do Estado na economia, definindo o que produzir, quando, quanto e onde, é premissa básica para a autossuficiência pregada pelo nacionalismo. – Seria o intervencionismo capaz de suprir toda falha de mercado? A segunda corrente de pensamento, a da sociedade da autodeterminação (e dos povos), com valorização dos direitos fundamentais de liberdade com responsabilidade. Prevalece a liberdade de empreender, de escolhas, de ir e de vir, com direitos de dizer como quer ser governada e de construir o seu próprio destino. Nela, as crises devem ser geridas pelos valores e senso de sociedade, onde o Estado é instrumento e não o fim. Ambos os conceitos, estão fortemente presentes na sociedade brasileira, interferindo (positivamente ou não) e condicionando as políticas públicas de enfrentamento da epidemia. De um modo comum, a necessidade de construção de uma economia mais resiliente, colaborativa e mais inclusiva frente às crises que afetam a economia, os negócios e a sociedade. No entanto, não se pode acreditar em sociedades e economias autossuficientes a ponto de fazer da pandemia um motivo para o protecionismo exacerbado e fechamento das economias. “O comércio internacional é vital para garantir escala de produção e o abastecimento de bens essenciais, a preços acessíveis. E para isso, os mercados precisam estar abertos e conectados” (Roberto Azevêdo, Diretor-Geral da OMC). Nesse sentido, vale lembrar que o Brasil possui uma das economias mais fechadas do mundo, comercializando no mercado mundial apenas 25% do seu PIB, segundo o Banco Mundial. Para o Brasil, cenário posto, devemos fazer as nossas próprias escolhas dos caminhos de enfrentamento de uma nova pandemia, a do protecionismo mundial. Não há como esperar posicionamento da OMC, visto que a Conferência sobre os desafios do novo modelo econômico se dará apenas em junho de 2021. O agronegócio brasileiro poderá ser um dos mais afetados ao médio prazo pela pressão de produtores para a elevação dos subsídios de governo, em busca de uma suposta “autossuficiência alimentar”. Os setores com cadeias de valor complexas, como produtos eletrônicos e automotivos, serão prejudicados mais em curto prazo com a falta de suprimentos. Com isso, vale dizer que, com a crise, empresas precisarão rever os seus planos e estratégias de negócios, modelos de gestão e diversificar suas cadeias de produção e suprimento. Por fim, o repensar nas empresas sobre o futuro não poderá esperar sob o risco de retroagir pela inércia. Invista para sobreviver e evoluir.



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