Diversidade e inclusão: como as companhias podem lidar com a nociva cultura do cancelamento.
- VECTOR Consultants - E.Moreno
- 21 de mai. de 2021
- 3 min de leitura

As organizações são organismos vivos que envolvem processos, regras, cultura, relacionamentos e, antes de tudo, pessoas.
A cultura do cancelamento, embora praticada já há muito tempo, tornou-se muito mais presente na sociedade, especialmente a partir dos movimentos mais radicais e afirmativos das questões de justiça social nos Estados Unidos, como as causas racistas e de gênero, tais como o Black Lives Matter, LGBT e outros como o feminismo. Tais movimentos passaram a ser reconhecidos como parte da "woke culture", uma chamada ao “espertar” para as questões sociais como racismo e desigualdade. Busca contrapor o “wokeness”, esse tido como um nível mínimo de conhecimento e consciência sobre as questões sociais, o que permite o controle social pelos grupos dominantes. “Eles sabem que o nosso conhecimento sobre nossos direitos é mínimo e eles sabem que podem nos controlar dessa forma”, uma expressão que fundamenta a proposta de "resistência" e ataque ao status quo, o “conformismo dominante”.
Muitos especialistas, como Élisabeth Moreno, ministra da Igualdade de Gênero e Diversidade da França, entendem que "embora a maior consciência sobre as desigualdades sociais, de gênero e raciais e injustiças que surge com a 'woke culture' nos EUA seja bem-vinda, ninguém deveria ser excluído do debate pela cultura do cancelamento que ela promove. Isso, é uma referência de que o radicalismo que acompanha a "culture woke" tem ampliado a "cultura do cancelamento", uma prática recorrente que busca isolar ideias divergentes e de defesa de princípios universais de diversidade e inclusão por entender que esses são insuficientes à promoção da justiça social.

Os excessos da “cultura do cancelamento” isolam as pessoas dos debates em andamento por que elas pensam de forma diferente, o que leva à censura e à intolerância em nome do que se poderia chamar de politicamente correto. Ninguém pode pedir a alguém para se calar sobre um determinado assunto por achar que a pessoa não teria legitimidade para isso, argumenta Moreno.
No Brasil, esses movimentos culturais têm crescido, mesmo que o que de forma mais tímida ou radical do que nos EUA, mas já alcançam fortemente as empresas, tanto pelas relações sociais presentes no seus dia-a-dias, quanto pela necessidade das companhias em pensar e se posicionar quanto às suas convicções sobre diversidade e inclusão (D & I), bem como sobre suas políticas de gestão do conhecimento e de inovação onde as pessoas são o principal agente.

Seguramente, essa tarefa de posicionamento não é tão fácil como se possa imaginar, pois implica em optar entre condutas baseadas em princípios universais de combate ao racismo e desigualdade e as práticas fundadas em políticas compensatórias, essas comumente e equivocadamente entendidas como ações afirmativas. O saldo disso no Brasil tem disso tem sido revelado em duas correntes: A do combate incessante ao preconceito nas organizações como a raiz da exclusão e da distinção racial, de gênero e etnia; e a vertente da compensação onde a distinção de cor, gênero e etnia (então tão condenada) é utilizada abertamente como meio de promoção de justiça social, mesmo que em detrimento de um ou outro grupo social.
No entanto e mesmo diante das dificuldades, as companhias não estão mais salvas da atenção dos consumidores e investidores. Suas condutas de responsabilidade social passam a pesar a cada dia mais nos negócios e, por isso, não cabe mais qualquer tipo de desobrigação ou de se eximir diante às questões sociais nos negócios a menos que se coloque em sérios riscos a reputação de marca. Por mais, sem uma cultura inclusiva, onde a diversidade reconhecidamente traz vantagens competitivas importantes, não se pode esperar que também as organizações promovam o desenvolvimento de talentos e a cultura da inovação, quando a cultura cancelamento subsiste impondo restrições à liberdade de pensar e expor ideias.

Ilustração: O julgamento de Galileu Galilei (1564-1642) foi pelo Santo Ofício, a Inquisição romana, para dar explicações a respeito do heliocentrismo, uma ideia que contrariava um dogma da igreja de que a Terra seria o centro do universo. .
Comments