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D & I: O voluntarismo e a militância têm preço


Em D & I, boas intenções não bastam, erros estratégicos podem ser cruciais para a vida das empresas.



"Por que as empresas americanas estão finalmente se afastando da militância corporativa"


Esse é o título do artigo da FEE - Foundation for Economic Education publicado pela Gazeta do Povo (06/09), assinado por Jon Miltimore.

Retrata o movimento de recuo de corporações em todo os Estados Unidos sobre políticas de DEI (Diversidade, Equidade e Inclusão), sob o argumento de que o tema se tornara um “campo minado” para as empresas.


A constatação não trouxe muita surpresa, pois já eram esperados os desdobramentos de práticas de Diversidade e Inclusão (D & I) fundadas apenas no voluntarismo e ações afirmativas como militância no ambiente corporativo. Alguns artigos postados no nosso blog falam sobre os riscos e como os erros de estratégia podem ser cruciais para a vida das empresas. Posters relacionados abaixo.

O título do artigo induz à ideia (correta) de que as empresas estão compreendendo que a militância em torno de D & I (ou de DEI), exclusivamente como fim, trazem efeitos nocivos ao propósito genuíno de D & I: o de fazer da diversidade uma estratégica de negócio que agregue valor à empresa, através da elevação da capacidade cognitiva impulsionada pela diversidade de ideias e conceitos fundamentais para a inovação.

 

No entanto, o artigo aponta que o recuo das empresas nas suas práticas de diversidade, equidade e inclusão se deve à preocupação que elas têm com a imagem, face às críticas de "conservadores" em relação à exposição de ativismo. A reação das organizações contra o DEI foi tão intensa que o próprio termo parece estar se tornando obsoleto, diz o artigo, acrescentando que a Sociedade de Gestão de Recursos Humanos anunciou recentemente que estava abandonando a palavra “equidade” de seu acrônimo.


Cita o artigo alguns exemplos de rejeição ao DEI, como o caso da John Deere, quem em julho, anunciou que estava se afastando dos esforços de DEI e deixaria de patrocinar eventos de “consciência social ou cultural”. O anúncio veio uma semana depois que o Business Insider relatou que a Microsoft havia demitido toda a sua equipe de DEI. A ação da Microsoft, por sua vez, ocorreu poucas semanas depois que a Tractor Supply, uma empresa com sede em Brentwood, Tennessee, decidiu encerrar seus esforços de ativismo social em face de uma campanha nas redes sociais direcionada à empresa.


Entre tantos argumentos das empresas, a ideia de que a luta das corporações por causas sociais disparou nos últimos anos a tal ponto que o ativismo está inibindo as empresas em sua missão principal: a de gerar lucros ao atender os clientes.


Conta ainda que a decisão da Bud Light de apresentar Mulvaney[1] custou-lhes cerca de US$ 1,4 bilhão em vendas e revelou o perigo das empresas se inclinar para a militância corporativa, particularmente campanhas e políticas que alienam suas próprias bases de consumidores.


Esse e outros exemplos fizeram com que corporações com bases de consumidores conservadores passassem a pensar mais nos resultados financeiros dos investidores do que questões sociais como reputação corporativa, pois "exibir autoridade moral diante a uma base desinteressada de consumidores é uma estratégia arriscada,” observou Kimberlee Josephson, Professora Associada de Negócios na Lebanon Valley College em Annville, Pensilvânia.


Lembrado também o erro estratégico de empresas de seguir movimentos "woke" achando que os consumidores barulhentos formam a maioria.


O autor argumenta que "está claro que as corporações cada vez mais enfrentam riscos ao participar de campanhas de ativismo social, e as ameaças agora vêm de todos lados do espectro político". Tal definição tem suporte na tese de que o DEI é apenas uma forma de militância corporativa, que se manifesta de várias formas e inclui sua prima, a Governança Ambiental, Social e Corporativa (ESG). Desta forma, o abandono do DEI é também desistir da ESG.


Bem por isso, o grotesco erro estratégico de rejeição ao DEI como forma de se afastar da militância como resposta às convicções e demandas dos consumidores mais conservadores que fazem o seu público. É crucial para a imagem e reputação se levar em conta o perfil dos consumidores, mas reduzir o DEI ou D & I (consideramos equidade como meio) à uma questão de espectro político ideológico é uma estratégia demasiadamente equivocada do ponto de vista dos princípios básicos de governança corporativa orientada para uma visão de futuro.  


Também não basta levar em conta apenas a proposta do “capitalismo dos stakeholders,” uma ideia que diz que as corporações devem olhar além de atender aos clientes para gerar lucros para os acionistas. A resposta vem do como os conceitos de D & I (ou do DEI) podem orientar a Governança Corporativa (e não o contrário) a produzir resultados corporativos mais qualitativos e perenes possíveis.


Certamente, vários outros “stakeholders” devem ser considerados, como defende Miltimore. Pesam, por exemplo, os interesses dos diversos agentes do mercado de capitais (em especial dos fundos de investimentos) que, através de “diretrizes e recomendações”, acabam moldando a política de sustentabilidade socioambiental das empresas investidas. Lembra o articulista sobre a influência de regras de classificação de empresas de capital aberto sobre ESG – tal como é regra na B3 com o “pratique ou explique” sobre metas de diversidade  - que influenciam não só no valor de mercado da empresa, mas também como uma avaliação ruim pode fazer com que uma empresa seja banida do mercado de capital com trilhões de dólares. No entanto, lembra o autor, ignora-se que a realidade de que o ativismo social agora traz maiores riscos potenciais, particularmente à luz do colapso do movimento ESG, que no início deste ano viu um êxodo de 14 trilhões de dólares, à medida que gestores de ativos como BlackRock e Goldman Sachs fugiam para se proteger.


As críticas ao ESG (lembrando do “S” que as práticas do DEI visam atender) já há algum tempo vêm sendo objeto de fortes ataques, com estragos vindos de posições de personalidades e instituições influenciadoras sobre o tema. Não faltam exemplos, como o da revista inglesa The Economist, que, em recente editorial, defendeu que os investimentos deveriam focar apenas nos aspectos ambientais do ESG, desprezando assim a importância das políticas sociais nas empresas investidas. Outro exemplo veio de Elon Musk quando afirmou que “ESG é uma farsa" e “o ESG corporativo é o diabo encarnado”, após a S&P Dow ter retirado a Tesla do seu rol das empresas certificadas com selo de sustentabilidade, mesmo sendo a Tesla empresa líder de então no mercado global de produção de carros elétricos.


De peso também as declarações de Tariq Fancy (ex-diretor de sustentabilidade da BlackRock, maior gestora de capitais do mundo), quando, em maio do ano passado, postou no USA Today que “o setor de serviços financeiros está enganando o público com suas práticas de investimento pró meio ambiente e sustentáveis. Esta arena de multitrilhão de dólares de investimento socialmente consciente está sendo apresentada como algo que não é. Em essência, Wall Street está promovendo uma lavagem de imagem no sistema econômico e criando uma distração mortal” (tradução nossa), uma referência às práticas de green e socialwahing comuns entre as empresas.


A percepção de Tariq Fancy, como de muitos outros influenciadores, é a de que o ESG é uma fralde por não resolver as questões socioambientais que afligem o mundo e tampouco criar vantagens financeiras significativas para as empresas.


A visão comum dos críticos é a de que o mercado busca substituir o motivo do lucro pelo do altruísmo corporativo. É o que se chama hoje de “Ditadura do Woke Capital”, uma visão de que o ESG (e do DEI por extensão) tem sido imposto como uma ideologia progressista, quando colocada acima dos resultados entregues pelas companhias aos seus acionistas e demais stakeholders.


Controvérsias em volta do papel do ESG e do DEI decorrem sempre de expectativas elevadas de resultados em todos os seus sentidos. Frustrações sempre estarão presentes quando se espera que deveriam servir de panaceia, o remédio para todos os males. O fato é que expectativas elevadas têm distorcido o propósito primeiro do DEI e do ESG nos negócios, que é o de elevar e/ou proteger o valor das empresas no mercado, na medida em que as boas práticas comprovadamente impactam positivamente não só no posicionamento das marcas, mas especialmente como as políticas de diversidade e inclusão, essenciais para as organizações que buscam fazer da diversidade cognitiva uma ferramenta para impulsionar a inovação e agregar valor às empresas.


Conceitos equivocados e expectativas elevadas conspiram sempre contra os propósitos mais genuínos e estimulam o voluntarismo. A tentação de projetar a todo custo uma imagem socialmente responsável e comprometida com causas nobres acaba trazendo resultados inversos, pois as práticas de “Socialwashing” – como também do “Greenwashing” – acabam sendo percebidas pelo mercado e consumidores como uma mera maquiagem corporativa, sem o compromisso genuíno de implementar mudanças significativas.


Não é o DEI o problema, mas sim como os seus reais propósitos são compreendidos e adotados. Não bastam boas intenções, erros estratégicos podem ser cruciais para a vida das empresas.


Saiba como construir D & I assertiva e evitar a militância.


[1] Dylan Mulvaney é uma atriz, comediante e TikToker americana. Mulvaney é conhecida por detalhar a sua transição de género através de vídeos diários na rede social TikTok, desde o início de 2022. Fonte: Wikipédia

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